segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pororoca - O Ritual de Acasalamento Lésbico

Prezadas leitoras,

Escrevo esse post tomada por uma forte indignação.

Há alguns dias, li um texto no blog Consultório da Petúnia, que é escrito por duas… conhecidas – na verdade, fui vítima de bullying por parte das duas, que escarneceram de mim por eu me encaixar na espécie “lesbos sofredorus”, ou seja, a esmagadora maioria lésbica que é romântica, ouve a Maria Rita (e não gosta de RAP), se apaixona perdidamente e sempre sai da relação com o coração partido e pelo menos seis chifres na cabeça.

O ritual do acasalamento lésbico diferente do que as meninas do “consultório” descrevem, não é parecido com a Piracema, mas com um outro fenômeno natural, a Pororoca.

Para aquelas que estavam prestando muito mais atenção na saia das amiguinhas do que na explicação da professora de geografia no ginásio, a Pororoca é um fenômeno natural caracterizado por grandes e violentas ondas que são formadas a partir do encontro das águas do mar com as águas do rio. Existem várias explicações para este fenômeno, mas a principal diz que sua causa deve-se à mudança das fases da lua, principalmente nos equinócios que aumenta a propensão da massa líquida dos oceanos proporcionando grande barulho (qualquer semelhança com a TPM é apenas uma mera coincidência).

Você já está solteira há muito tempo (10 longos dias) e passado o período de muito, mas muito sofrimento pela perda do amor da sua vida (hein!?), você resolve que é hora de dar a volta por cima. Por falta de opção ou por limitação de neurônios – todo mundo está cansado de saber, inclusive você, que as chances de se meter numa grande pororoca são muito maiores do que a de encontrar o amor da sua vida numa balada – você insiste no erro. Afinal, já dizia a Helena Moraes “a esperança nasce todo sábado à noite e morre todo domingo pela manhã”.

Chegando à pororoca, ou melhor, à balada, você vê aquela loira estonteante, que mesmo tendo pegado todas (isso mesmo, TODAS) as suas amigas antes, você nunca tinha prestado atenção. Afinal, segundo a Tia Arluce, a professora de geografia do primário, pode-se prever uma pororoca com duas horas de antecedência, pois a força da água vinda da cabeceira provoca um barulho muito forte e inconfundível. Mas você não assistiu a essa aula, certo? Ou certamente achou que o barulho da pororoca era apenas mais uma música insuportável daquela balada que você odeia, mas que por algum motivo desconhecido a fará encontrar uma pessoa que tem tudo a ver com você. E viva as forças da natureza.

E eis que começa o fenômeno! A loira resolve retribuir os seus olhares, e o fato dela só estar olhando pra você porque já pegou a boate inteira (inclusive os garçons e os strippers) de repente se torna apenas uma ondinha no meio de toda aquela pororoca. E começa o ritual de acasalamento. Você se aproxima fazendo olhar sensualizador, imune ao papel ridículo que está fazendo ao tentar dançar a Lady Gaga mesmo tendo tanto ritmo quanto a vassoura que varre a balada. As quatro doses de coragem com Red Bull fizeram efeito, e a loira parece estar na sua.

Vocês trocam olhares e dez segundos depois começam a se beijar intensamente (intensamente é a palavra que o seu inconsciente bêbado usa para definir o filme pornô que você esta fazendo com a garota no meio da balada). E então ela olha para você e diz tudo aquilo que você sempre quis ouvir (quantas vezes você já ouviu isso mesmo?): “Nossa, por que eu nunca fiquei com você antes? Acho que eu estou me apaixonando”. Vocês se calam e trocam um olhar profundo.

Tia Arluce, já no céu há alguns anos, se rebate no caixão! Como você pode não lembrar que “Momentos antes da chegada da pororoca cessa o barulho e reina o silêncio? Este é o sinal de que é melhor procurar um local seguro para que a força da água não cause nenhum estrago.”

Você mal beijou a garota e já está apaixonada. E ela parece estar se envolvendo de volta. Postou até a música do Luan Santana no Facebook! Foi pra você, claro! Você retribui com a Maria Gadu, ela curte! Depois de horas conversando no chat você está encantada. Como ela é vaidosa, como ela se cuida! Vai pra academia todos os dias, não come carne por opção e está juntando dinheiro para investir nela no final do ano.

- Faculdade?

- Não, lipoaspiração.

Ela é a nova mulher da sua vida, você quer namorar com ela, fazer passeios românticos, trocar opiniões sobre livros, músicas, filmes. Afinal, todo relacionamento é feito de trocas, mesmo que você não goste muito do que ela tem a oferecer. O que vocês têm é único, diferenças, mesmo as mais esdrúxulas, são o tempero do relacionamento.

Vocês trocam juras de amor em todas as redes sociais possíveis e imagináveis, e com duas semanas de relacionamento sério você já sabe todo o repertório da Banda EVA. Com o tal compromisso duradouro, é hora de apresentar a sua nova namorada aos amigos. Ela é uma pessoa diferente agora, está apaixonada e disposta a ter um relacionamento longo e estável. Já traiu antes sim, mas obviamente porque não tinha encontrado alguém que valesse a pena – você.

Todos os seus amigos fingem surpresa, engolem a indignação e aceitam a sua namorada na turma. Vocês vão juntas para a primeira balada, e em meio a muitas juras de amor ela vai ao banheiro, sozinha. Na região Amazônica, segundo tia Arluce, no momento da pororoca a elevação de água que chega a 6 metros de altura a uma velocidade de 30 quilômetros por hora. Na sua noite, foi preciso 1,70 de mulher e 30 minutos de banheiro para colocar um chifre de seis metros na sua cabeça, já na primeira saída.

Passado o fenômeno, você é então varrido pela pororoca de volta à sua casa, desolada, sozinha e inconformada. Tinha tudo para dar certo, vocês tinham tanto em comum (???). Moral da história? Nunca se deixe enganar por uma pororoca, e sempre siga os conselhos das suas professoras, eles podem salvar a sua vida um dia.

Nenhum comentário: