segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Capítulo 1 - Eu sou Gay?

Helena fala…

Este capítulo seria facilmente escrito por milhares de mulheres, ainda que eu diga que é tarefa impossível definir se alguém é ou não gay. O que eu quis dizer é que cada uma de nós, que já passou pelo processo de “sair do armário”, tem uma versão própria de como se descobre se você é ou não gay. Felizmente, só há uma pessoa no mundo capaz de saber se você é gay: olhe-se no espelho.

Cada uma de nós possui uma visão ímpar do que é ser gay. Temos uma definição própria, conceitos pré-formados… mas no fundo, sabemos o que somos… desde cedo, na época em que nosso superego briga fervorosamente com nosso id para suprimir os desejos primários que tentam aflorar e chocar a sociedade contemporânea. Sabemos que há um conflito, uma dúvida, um desejo. Podemos até não admitir, mas sabemos que está lá, adormecido em meio à inércia social em que vivemos.

Cada mulher que já beijou outra tem a sua primeira história, o primeiro toque, o primeiro cheiro, o primeiro gosto. Não cabe, então, fazer qualquer relato neste momento. Cada mulher deve ter sua primeira experiência ainda virgem de experiências de terceiros, e guardá-la para si com todo o carinho e inocência do primeiro amor, pois é exatamente o tipo de sentimento que se deve ter, a priori. A mulher deve se entregar a outra descrente do possível desfecho daquela história… deve pular num abismo sem fim e sentir toda a intensidade de amar outra mulher, sem ter a mínima idéia de como terminam histórias que começam daquela forma.

Beatriz fala…

Sentir atração por uma pessoa do mesmo sexo não é crime e está longe de ser algo incomum. A História narra que a homossexualidade masculina era, inclusive, cultivada na Grécia antiga. Uma questão cultural que nunca impediu os homens de casar e ter filhos.

Mas afinal o que difere um homossexual de um heterossexual e de um bissexual? Se você acha que ir pra cama com uma mulher vai ser uma experiência terrível e não consegue se imaginar nunca beijando uma pessoa do mesmo sexo, é provável que você perca uma experiência bastante prazerosa.

Fazer parte de uma minoria nunca é fácil. Ser apontado na rua, ser alvo de piadas, de preconceitos e principalmente da repreensão por parte daqueles que amamos. É por essas e outras que muitas pessoas perdem tempo, algumas chegando inclusive a não admitir nunca que são gays.

Por que então existem pessoas que preferem relacionamentos com pessoas do mesmo sexo ou com pessoas do sexo oposto? Bom, isso quem tem que explicar é a ciência. Eu não sou psicóloga, não estudo o comportamento humano e não tenho autoridade alguma para falar a respeito do assunto. Em minha modesta opinião, o que define se uma pessoa é gay ou não, é a capacidade dela apaixonar-se por uma pessoa do mesmo sexo, não a atração física.

Ser gay é nojento, feio, sujo? Quem disse isso?

Ter prazer numa relação com pessoas do mesmo sexo não faz de ninguém um homossexual. O corpo responde a estímulos, e uma pessoa do mesmo sexo é capaz de explorar melhor o seu corpo pelo fato de saber onde e de que forma é mais prazeroso.

Sexo entre mulheres é bom, e ponto final. Honestamente falando, eu não conheço uma única mulher que tenha dormido com outra e não tenha gostado. E muitas delas não são lésbicas, apenas corajosas o suficiente para deixar os “pré-conceitos” de lado e se entregarem a novas experiências. Aliás, qual a lésbica experiente que nunca se deparou com um “surto”, de uma marinheira de primeira viagem que fez sexo por experiência e gostou mais do que deveria?

Helena fala…

Mas voltemos no tempo… você ainda está sem saber o que vê quando se olha no espelho. Você não sabe se gosta de mulheres ou de homens. Não sabe se quer, se pode ou ainda: se DEVE se permitir viver uma experiência com outra mulher. Esta é a fase do conflito. O melhor remédio para esta fase é esperar que passe. Eu devo ter passado grande parte da minha adolescência imersa em conflitos sexuais, namorando homens, frustrando-os e me frustrando em retorno. Até o dia em que eu “a” vi… não “a” descreverei aqui ou dividirei a magia do meu primeiro amor com vocês, caros leitores. Infelizmente não cabe neste post… a importância, a relevância da citação é apenas a de ilustrar que, no momento em que eu bati os olhos na primeira mulher que eu quis beijar (uma completa estranha – vale ressaltar), eu soube que era lésbica. Tentei esconder de mim mesma por anos, mas já sonhava com mulheres à noite há muito tempo, e pensava na estranha com tanta freqüência que chegava a beirar o insuportável. Foi minha primeira namorada.

Beatriz Fala…

“Cada mulher deve ter sua primeira experiência ainda virgem de experiências de terceiros, e guardá-la para si com todo o carinho e inocência do primeiro amor(…)”Helena Moraes

Não seria justo que nós narrássemos, neste primeiro capítulo, a forma como “nos descobrimos”.

Deixaremos essas experiências para cada uma de vocês.
No entanto…
Irei descrever abaixo algumas situações. Algumas reais, outras não. Se alguma delas parecer com você, não significa que você é gay, mas, honestamente, está na hora de rever os seus conceitos.

AMIGAS DE COLÉGIO

De repente você se pega pensando em uma amiga do colégio, faculdade ou colega de trabalho mais do que deveria. Pare e repense sua amizade, veja se ela obedece algum dos comportamentos abaixo:

Dos amigos

  • Vocês viraram dupla sertaneja. Ninguém fala o seu nome sem associar ao dela e vice-versa. As pessoas acham estranho quando vocês não são vistas juntas.
  • Vez por outra, há algum comentário maldoso, mas você não se importa. Afinal, você gosta mesmo é de homem e nenhum boato bobo vai mudar isso.
  • Se houve algum comentário, você nunca prestou atenção. Afinal, quem poderia ver maldade em uma amizade tão pura quanto essa?
  • Você morre de ciúmes dela com outras amigas, e fica seriamente chateada quando ela chama outra menina pra sair sem você. A recíproca é semelhante.

Dos garotos

  • Você sai com muitos garotos, ela também, mas no final das contas, a noite é sempre mais divertida quando só estão vocês duas, bebendo, brincando, dançando.
  • Você sempre acha que os namorados que ela arruma não são bons o suficiente para ela.
  • A afinidade entre vocês duas parece ser maior do que a com qualquer namorado e, quando ficam longe mais de um dia, você morre de saudade.
  • Você pode até não ter ciúmes dela com outros rapazes, mas não gosta muito quando ela volta da balada com o menino ao invés de ir dormir na sua casa, ou ao menos liga para dizer como deveria ter ficado bebendo com você.
  • O namorado dela até gosta de você, mas acha a amizade de vocês duas estranha, e reclama porque ela sempre prefere levar você junto. O mesmo acontecendo quando você namora e ela não.

Do contato físico

  • Vocês são sempre muito carinhosas uma com a outra, deitam no colo, mãos dadas, abraços, e quando vocês bebem, acontecem umas brincadeirinhas mais pesadas.
  • Vocês evitam se tocar por alguma razão não identificada. Afinal, carinho é uma coisa que você faz com o seu namorado, não com a sua amiga.
  • Vocês são típicas amigas, se abraçam quando se encontram, sem excessos. No entanto, acontece uma coisa estranha quando vocês bebem. Os abraços ficam mais apertados, enfim, você não sabe explicar ao certo.
  • Você se flagrou pelo menos uma vez olhando pra alguma parte do corpo dela de uma maneira diferente.
  • Você se flagrou pelo menos uma vez pensando como seria se vocês duas se beijassem.
  • Você teve ou tem sonhos estranhos com ela.

Longe de mim não acreditar numa amizade pura e sincera! Mas, se algumas das situações descritas acima descrevem a sua relação com a sua melhor amiga, está na hora de pensar a respeito da sua sexualidade e, de preferência, ler o restante do nosso manual.

O MUNDO GAY SE APROXIMA

Belo dia sua amiga-irmã de infância, aquela menina que costumava brincar com você desde pequenininha, que era apaixonada pelo seu irmão mais velho e que sempre foi para você um exemplo de feminilidade, marca uma saída num bar pra conversar. Depois de 3 doses, ela solta a bomba.

- Eu estou namorando.
- Que maravilha, quem é ele?
- É ela! Eu virei lésbica e estou namorando uma menina.

Passada a fase de impacto, sua amizade volta a ser tão boa como era, e você aceita sair com a nova turma da sua amiga. A namorada dela é uma menina muito bonita, feminina, e uma profissional bem sucedida. Completamente diferente da imagem que você tinha das lésbicas.

De repente, você está numa festinha com promotores, juizes, médicas, advogadas, pessoas bonitas, de bom gosto, do bem e que, por ventura, são homossexuais! Como em todos os grupos sociais do mundo, também há uma elite no meio gay. E se você tiver a oportunidade de conhecê-la, ficará definitivamente surpresa.

Sua amiga está muito feliz com o namoro lésbico, e vai ser perfeitamente natural que ela queira lhe apresentar algumas amigas solteiras da namorada dela. Não fique magoada. Pare e pense se você realmente tem vontade de experimentar, mas saiba dizer não. Se o meio gay de repente lhe parecer interessante e atraente, siga o seu próprio tempo e tome bastante cuidado para não entrar em uma roubada.

Experimentar não fará mal, mas escolher a pessoa e o momento certos pode ser crucial para que isso não seja um caminho sem volta. Nunca esqueça de que assumir uma postura homossexual é algo muito difícil e doloroso. Logo, não “saia do armário” sem ter absoluta certeza de que é isso que você quer.

ELA ESTA DANDO EM CIMA DE MIM!

Como será mostrado nos capítulos seguintes, uma lésbica destemida e apaixonada não costuma medir esforços para conquistar uma mulher, seja ela gay, ou não. É bem verdade que a maioria das mulheres gays e experientes têm algo que denominaremos “gaydar”, uma espécie de sexto sentido que faz saber se uma mulher é lésbica ou não.

No entanto, mesmo que o “gaydar” não apite, ainda assim, algumas lésbicas guerreiras – vide a minha co-autora Helena – tentarão (muitas vezes com sucesso) converter até a mais hétero das mulheres.

Você conhece uma menina muito bonita, que puxa papo com você, é gentil. Até ai nada demais. Ela pede o seu telefone ou MSN e de repente vocês vão ficando mais próximas. De repente, você ouve rumores alarmantes. Seus amigos comentam que a tal menina tem a maior fama de lésbica e que ela provavelmente está se aproximando de você com segundas intenções. Imagine só, fulana, tão gentil, tão sensível, querendo levar você para a cama! Que absurdo! Acontece que muitas vezes o boato é verdadeiro, outras não.

O ideal é que, se você tiver intimidade para tal, converse com ela e pergunte se isso é realmente verdade (o fato dela gostar de meninas). Ela provavelmente será sincera com você e, se não for, acredite nela, mesmo sabendo que é mentira.

A partir daí você vai ter que pensar com muito cuidado a respeito de que postura tomar. Você já teve curiosidade? Gostaria de saber como é um beijo com outra garota? Caso você fosse beijar uma outra garota, seria ela? Ela realmente olha diferente para você ou tudo isso é loucura sua? Não seja preconceituosa. Mulheres lésbicas têm amigas mulheres e heterossexuais sim, e não necessariamente aproximar-se-ão de você com segundas intenções. Mas, infelizmente, a experiência mostra que onde há fumaça, há fogo. E, se você não estiver nem um pouco curiosa, deixe isso bem claro para ela e certifique-se que ela entendeu o recado. Vocês podem continuar boas amigas, não há nada de errado nisso.

Caso contrário, se você está gostando do assédio e cogita a hipótese de ceder, outra vez você deve ponderar uma série de aspectos: Que tipo de relação eu gostaria de ter com ela? É só um beijinho de amiga, uma curiosidade, uma noite de sexo tórrido ou um relacionamento estável homossexual?

Você não precisa vencer a sua timidez, apenas abra um pouco de espaço que ela tomará as providências. Boa sorte!

P.S. Se você provou por curiosidade e se viu mais envolvida do que gostaria, eu aconselho que, o mais rápido possível, avise isso para sua “amiga”. Ela pode não querer nada sério com você (nem todas as mulheres lésbicas são certinhas e boazinhas), e é melhor que a situação seja esclarecida o quanto antes. Um capítulo posterior dará algumas dicas sobre como “reconhecer uma fria”.

MUDANÇA DE CONCEITOS

De repente os seus amigos de anos começam a ficar sem graça. Às vezes nem chega a tanto. Mas, fazendo uma retrospectiva, nos últimos tempos as suas companhias têm mudado bruscamente. Você está freqüentando guetos GLS, andando com muitos amigos gays e descobrindo que o “mundo” em que eles vivem não se compõe apenas de sexo, drogas e rock´n roll como você via na televisão. Você passa a achar beijos entre dois homens e duas mulheres uma coisa absolutamente natural, e fala abertamente para todos que ficaria com uma pessoa do mesmo sexo, se você estivesse envolvida.

Talvez essa seja a maneira mais simples de ingressar no mundo gay, você deixa aflorar os seus instintos, e tem uma postura madura sobre isso. Lidar com a descoberta da sexualidade sem uma paixão abrupta é algo mais leve, uma coisa gradativa.

Que fique bem claro, aceitar a homossexualidade como uma coisa natural não significa que você seja gay. Pelo contrário, esta é a forma certa de encará-la. O viés lésbico deste parágrafo apenas diz respeito às pessoas que “se descobrem” sem maiores traumas.

Infelizmente, essa é apenas uma pequena parte da população gay – já que ninguém escolhe a forma como vai começar a gostar de alguém do mesmo sexo – e nem ela está livre dos preconceitos da sociedade. Afinal, como todas as grandes coisas, descobrir-se gay tem suas dores e suas delícias.

Helena fala…

Se você acha que é gay, mas não tem coragem de admitir, não admita. Lembro-me de pensar “Sei que gosto, sei que gostaria de provar… mas nunca vou deixar isso acontecer. Nunca ninguém vai saber”… Nem nos meus pensamentos acho que chegava a pronunciar “mulher” ou “lésbica”, tamanha era minha resistência à possibilidade de ser gay.

A verdade é que toda mulher tem atração por outras mulheres. No capítulo de conversão eu explicarei com mais detalhes o porquê de 90% da população mundial ser bissexual por instinto… não vem ao caso aqui. Aqui o problema é você, não as outras. É o fato de você não saber e isto incomodar tanto a ponto de criar uma sensação desagradável… esta sensação de não saber, de não definir, de não sentir. Minha recomendação universal sempre foi e sempre será: PROVE. Apenas provando você saberá se é realmente algo que difere do que você já conhece.

Somente beijando você saberá se o toque macio dos lábios e os cabelos longos por entre os dedos despertam em você um desejo avassalador até então adormecido. Os beijos indefesos, passivos, suaves… o toque delicado das mãos, as mãos nas cinturas, delineando curvas até então só sentidas em primeira pessoa… o encontro dos quadris, das coxas… os seios encostando uns nos outros, imersos na mistura dos perfumes das duas…

Deu vontade até em mim.

Maaas, contudo, porém, todavia: prove na HORA CERTA! Ainda que demore, não vá sem estar preparada. Tenha vontade. Saiba quem você quer, nutra sentimentos, deseje, se apaixone… e então se entregue. Viva um primeiro amor com toda a inocência de quem nunca amou… a graça entre duas mulheres está justamente na intensidade com a qual ambas conseguem apagar, completamente, todo o restante do mundo quando se amam profundamente.

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