segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Capítulo 11 – Como (não) manter um namoro

O que faz um namoro dar certo? Amor, atração física, afinidades? E quando você tem tudo isso e mesmo assim o namoro acaba? Existe alguma fórmula mágica para fazer uma história de amor durar? Neste capítulo, um pouco da minha história, as imperfeições de um namoro perfeito, o termino dele. Se poderia ter sido diferente? Eu nunca vou saber. Deixo os fatos para que você não cometam os nossos erros e façam diferente de suas próprias histórias.

O meu romance começa, permeia e termina com uma palavra até então inexistente, que criou e marcou o meu relacionamento, e foi a causa da sua glória e do seu desastre.

Bibs

Depois de dar o primeiro beijo na Vitória, nós não conseguimos mais passar nem um segundo separadas (erro Bibs clássico!). O pequeno detalhe era que ela morava em São Paulo e eu no Nordeste, e não se separar não era bem uma opção. Quanto mais o tempo passava, mais difícil ficava. Até a saudade chegar num grau de crise de abstinência, tornando insuportável a convivência com qualquer uma das pombinhas mexicanas separadas. Belo dia, acordei no meio da noite com um pesadelo, liguei pra ela aflita.

- Eu tive um pesadelo, precisava ouvir sua voz.

- Eu também to com ueytueriytiuert.

- Vitória? Você está acordada?

- Bibs!

- Ahn?

- Eu tenho abibsertertskdjas.

- Tudo bem, já entendi que você tem esse tal de bibs, vá dormir e amanhã nos falamos.

Desde então, o bibs virou um estado de espírito, uma maneira de ver o mundo, e de levar o relacionamento.

Mas voltando aos certos e errados…

Erro Bibs número 1 – A sua namorada NÃO é o centro do universo.

Adivinhem só? O Bibs é egoísta e egocêntrico!

Completamente tomada pela paixão, eu não queria ver nada nem ninguém a não ser a Vitória. Todas as coisas que eu fazia sem ela eram chatas e sem importância. Resultado: um ano e meio de namoro depois, e as únicas pessoas que eu via eram os amigos dela, os únicos lugares que eu ia eram os que ela me levava, eu tinha me afastado dos meus amigos, das minhas referências, além de ter mudado de cidade, obvio.

Eu sei que é difícil, principalmente quando se está tomada pelo bibs, mas ter um pouco de individualidade só deixa a relação mais forte. Não precisa sair por ai badalando num lugar cheio de abajurs. Mas pelo menos mantenha seus amigos perto de você (os seus, não os dela!), ligue pra saber como eles estão, saia com eles nem que seja pra um café. Um relacionamento é feito de troca, e o que você vai trocar se não tiver nada de novo, nem uma conversa diferente pra contar? Alias, o que leva ao erro Bibs número 2:

Erro Bibs número 2 – Não se afunde na rotina

Embora namoro e rotina estejam intimamente relacionados, não existe nada mais gostoso do que um belo clima de romance. Por que não surpreender? Colocar uma roupa bonita, levar a sua namorada pra um lugar legal ou preparar algo em casa (se você também tiver retardo doméstico, pode mandar pedir comida e fingir que preparou), ler um poema legal, colocar uma música que vocês gostem. Sair pra jantar todos os dias no mesmo restaurante só engorda!

Eu sei que quando se está apaixonado, tudo que você quer depois de trabalhar o dia inteiro feito uma condenada é chegar em casa e ficar vendo filme com a sua namorada deitada no sofá. Seis temporadas de The L Word depois, o sofá está afundando e vocês se tornam duas bolas de bibs esverdeadas consumidas pelo mofo da falta de contato social. Eu sou a prova viva disso. Nem o maior amor do mundo sobrevive ao isolamento – leia-se isolamento de coisas novas, de experiências e de ver gente, nem que seja num shopping ou num parque. Isso pode trazer conseqüências desastrosas, como o erro Bibs número 3.

Erro Bibs número 3 – Vaidade É importante!

Graças aos erros Bibs número 1 e 2, o pior aconteceu. Enlouquecidas de paxonamento (o primo do bibs) e bibs, eu e a Vitória não fazíamos mais nada a não ser ficar deitadas no sofá, de pijaminha igual, olhando uma para a outra com cara de boba. Só havia uma coisa que estava sempre entre nós, ao nosso lado: a comida! Resultado: viramos duas bolinhas de bibs. Um casal gordinho, apaixonado e feliz. Nós ganhamos muito, muito peso. Cega pelo bibs, eu não me importava se ela estivesse gorda, magra, bonita ou feia. Ela era o amor da minha vida e nada mais me importava. Eu só queria que ela estivesse do meu lado, com aquele rostinho gordo e feliz, comendo um Mac Donalds ou um Petit Gateau da Parmalat. Eu lembro de acordar no meio da noite, olhar para aquela perna gordinha de pijama ao meu lado, pensar BIBS, me sentir a mulher mais feliz do mundo e voltar a dormir!

O Bibs é cego, o resto do mundo não! O excesso de peso foi minando a vaidade, a atração física, ainda mais a vontade de sair. Quando percebemos isso já era tarde demais. Se você acha que a sua namorada ama você além de tudo, há uma grande chance de você estar certa. Desculpe informar, mas não é só de amor que vive um relacionamento. E a mulher que você ama vai gostar, e muito, se você estiver linda não só para ela, como para você. Comodismo destrói o amor próprio, e isso leva a uma reação em cadeia que, no meu caso, só foi quebrada com os dez quilos que eu perdi na fossa. Sabe o que é o pior de tudo? Eu só percebi tudo isso depois que o namoro acabou.

Erro Bibs 4 – Resolva os pequenos problemas enquanto eles ainda são pequenos.

Tempos depois do término do meu namoro, sentada num banquinho ainda com uma dor na alma profunda e o coração partido em mil pedacinhos, parei pra analisar friamente se havia algum sinal para um término tão brusco e violento. E eu lembrei de uma conversa que eu tive com a Vitória, em que ela me explicava que a decisão dela se assumir gay estava intimamente ligada ao fato dela ter parado de fumar.

- Eu ainda não entendi o que parar de fumar tem a ver com isso meu amor.

- Eu estava num ciclo vicioso, tudo na minha vida estava muito indeciso, eu não sabia bem o que fazer, mas tinha certeza de que se eu conseguisse fazer uma coisa muito, muito difícil, tudo na minha vida ia começar a dar certo. Foi então que eu parei de fumar. Meu desempenho como atleta melhorou, e eu tive coragem e forças para sair do armário. Os quilinhos extras que eu ganhei eu resolvo mais fácil. O importante é que eu consegui, cortar uma coisa que estava me fazendo mal, e que eu mesma estava causando.

Ai um dia a Vitória voltou a fumar, a ter insônia, a ser uma pessoa estressada. Eu fiquei muito preocupada, porque eu sabia que aquilo significava que ela poderia voltar ao tal ciclo de coisas ruins. O que eu não notei foi que o ciclo já existia, e que o cigarro foi apenas mais uma das coisas ruins do ciclo vicioso em que o meu namoro tinha entrado. Mas ai o fim já tinha começado, e era tarde demais. Parte porque tinha que ser daquele jeito, e parte porque eu tinha cometido um outro erro muito mirim, lá no comecinho do namoro, e eu ainda não tinha esse capítulo do Manual.

Erro Bibs número cinco – Ame a si mesmo acima de tudo.

Descobri da pior forma possível que até dupla sertaneja tem a sua individualidade. Quando a Vitória me conheceu, eu era uma menina cheia de sonhos, de personalidade forte, com muitos amigos, ambições, programas, farras.

Abri mão de tudo, sem que ninguém me pedisse, em prol do Bibs. Eu não era mais uma pessoa, mas uma relação – e pior, fadada ao término.

Um relacionamento é feito de duas pessoas, e se só um lado ceder sempre, uma hora a corda arrebenta. Se você um dia cair de Bibs – ou seja lá qual seja o nome idiota que você vai escolher, se você tiver a nítida sensação de que vai ser pra sempre, faça por onde!

Preserve o respeito, a cumplicidade, a individualidade de cada uma. Se existe amor, vocês podem trabalhar juntas para encontrar sempre, um ponto de equilíbrio que deixe ambas as partes felizes. Nunca, sob hipótese alguma, abra mão de quem você é em prol do outro. Além de destruir o seu amor próprio, você ainda vai destruir a pessoa por quem a sua namorada se apaixonou. E ela pode não gostar tanto assim da nova.

No mais, que vocês sejam felizes para sempre, e boa sorte.

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