segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Capítulo 10 - Convertendo

CONVERTENDO HETEROSSEXUAIS “CONVICTAS”
Helena Fala…

Você se deparou acidentalmente com sua colega de turma penteando os cabelos em seu banheiro durante a realização de um trabalho em grupo na sua casa e, subitamente, você soube naquele exato momento que a queria. Você inexplicavelmente começa a desejar beijar seus lábios, sentir o cheiro dos seus cabelos, conhecer seu corpo de perto e sentir sua respiração ofegante. Sabidamente ela é heterossexual. Você fica desesperada e não sabe como tirá-la da cabeça. Sonha com ela todos os dias, não deseja esquecê-la. Quer mostrá-la na prática tudo aquilo que você tem em mente. Bem vinda ao capítulo que ensina você a converter até a mais hétero das mulheres.

Na verdade, o processo em si não é uma conversão. É um convite sutil. Tenha isto em mente. Você não aborda uma mulher heterossexual e a convida para sair, você sutilmente se põe presente em seu dia-a-dia, ganha intimidade e cumplicidade, forma um vínculo afetivo e, quase despercebidamente, convida-a para conhecer seu mundo. Não é um processo de aqüendação* propriamente dito, é mais uma abertura. Ciente disto, além de aumentar a sua segurança, você diminui a ansiedade gerada pela “missão impossível” de mudar os conceitos sexuais de alguém. Na pior das hipóteses, lembre-se que vocês poderão virar grandes amigas, e talvez isto seja algo maravilhoso.

No primeiro período de faculdade, uma loira lindíssima – espetáculo de mulher – deu algum discurso para a minha turma acerca de algum assunto que me foge à mente no momento. Naquele exato instante, eu soube que a queria para mim. Eu nem tinha ficado com mulher alguma ainda, tinha um namorado e era cheia de conflitos internos acerca da minha sexualidade. Ela passava ao meu lado e eu, timidamente, baixava os olhos, sorria e continuava andando, me sentindo ridícula pelo sorrisinho infantil. Esta mesma mulher, cerca de dois anos depois, foi minha namorada durante seis meses. E sim, ela era heterossexual convicta – homofóbica, na verdade – e noiva de um advogado.

Para converter uma mulher hétero você precisa, primeiro, ter segurança no que quer e na sua identidade sexual. Precisa ter serenidade e tranqüilidade diante do fato de gostar de pessoas do mesmo sexo, e deixar transparecer isto caso seja necessário. Transparecer em que sentido? Bom, se você vai convertê-la, eventualmente haverá uma hora em que ela saberá de você. A questão é se você terá maturidade para encarar esta situação com tranqüilidade e demonstrar equilíbrio, pois há a chance de você refletir a primeira imagem de uma lésbica que ela terá na vida. Mulher conflitada não converte mulher hétero, só arruma confusão.

Eu demorei dois anos para conseguir sequer me aproximar da minha colega de turma por conta disso. Minha segurança só chegou depois que namorei algumas mulheres, fiquei com outras e conheci o universo gay e as possibilidades oferecidas a uma mulher que entende de mulher: e acreditem, esta última pode tudo, e pode dentro dos dois mundos.

Bom, iniciemos. O passo número um é o mais importante: avaliação do custo-benefício. Você realmente quer aquela mulher? Quer muito, a ponto de trazer um conflito à mesma? Fazer alguém se apaixonar tem sérias implicações, que devem ser ponderadas antes que qualquer atitude seja tomada. É importante que se tenha consciência das conseqüências de apaixonar uma mulher que nunca se envolveu com outra mulher. Há a grande chance de se formar um grande conflito interno na mesma, e você deve estar apta a ajudá-la nesta fase, ou o relacionamento não dará certo e você se sentirá frustrada.

Então vamos à prática, chega de teoria. Você tem um alvo, e o segundo passo é estudá-lo. A primeira ação na conversão é a sondagem, que pode ser feita pelo orkut ou fotolog, blogs e afins (vide capítulo sobre modernidades: e-raxas). Nesta sondagem, você descobre do que ela gosta: bandas, locais que freqüenta, círculo de amigos, gosto literário, planos para o futuro, sonhos, aspirações… a verdade é que o mundo hoje nos propicia a possibilidade de saber tudo sobre alguém antes de conhecê-lo a fundo pessoalmente, e isto pode ser uma arma para quem deseja cruzar a barreira da amizade. É como saber o plano político de investimentos do governo sendo um grande empresário e montar as empresas necessárias aos serviços terciários semanas antes de as mesmas serem solicitadas. No momento em que você sabe do que ela gosta, você cria campos em comum entre as duas. Conjuntos que pertencem a ambas, intersecções. Aquele gráfico matemático do primeiro ano em que duas bolinhas se sobrepõem e marcam uma área comum. Você vai começar por aí. Afinidades facilitam a criação de amizades, é fato.

Estabeleça mais contato pessoal. Seja simpática quando se cruzarem, mas não procure fazê-lo com tanta freqüência. Troque palavras e toque-a nos ombros ou nos braços na hora de ir embora ou quando chegar. Deixe-a sentir seu perfume e se familiarizar com o mesmo, mas não se coloque próxima demais a ponto de comprometer a sua imagem. Você tem que parecer neutra, não adianta demonstrar interesse nesta fase. Crie situações extra-curriculares (caso a conheça do ambiente de trabalho) ou convide-a para sair caso ela faça parte de um outro ambiente. Da primeira vez você deve fazê-lo com alguma amizade em comum. Ouça sempre o que ela fala, não importa quantas pessoas estejam à mesa. A arte de conquistar uma mulher reside nas pequenas coisas, e dentre elas a mais importante é saber ouvi-la e entender o que ela quer.

Elogie-a. Diga que seus sapatos são lindos, que seu perfume é espetacular. Diga-a que seu cabelo está mais bonito, pergunte se cortou ou pintou. Elogie a cor do esmalte, pergunte se emagreceu. Cuidado, apenas, para não fazer todos estes elogios de uma só vez, ou ela achará que você é algum psycho*. Eu costumo fazer um elogio sempre ao encontrar, o que soa casual, sai naturalmente e já quebra qualquer tensão inicial da primeira conversa do dia. Observe-a e veja o que há de diferente nela, ache algo que cause impacto em você, elogiando então. Sutilmente, nada espalhafatoso. Isto fará com que ela não tenha defesas afetivas contra você e se mostre sempre aberta a tudo o que você dirá e aos convites que fará. Ela passará a lhe considerar uma companhia agradável, pois você elevará a auto-estima dela.

Nada de timidez durante as conversas. Lute contra isto, você tem um objetivo e este não será cumprido se você não puder observar a reação dela a tudo o que você diz. Olhe-a nos olhos enquanto fala ou ouve-a falar. Escute realmente o que ela diz e responda, enquanto olha-a nos olhos, sempre. Observe sempre sinais de lingüagem corporal. Se ela senta ao seu lado e cruza as pernas inclinando os joelhos para o seu lado, isto significa abertura em sua direção. Pernas e braços cruzados enquanto ela se põe de frente para você são um mau sinal, indicam ambiente hostil: ela não está se sentindo à vontade, cabe a você descobrir se a culpa é sua ou do ambiente (por exemplo, num consultório médico lotado não há quem se sinta confortável). Ao ser indagada acerca de qualquer assunto, se ela desvia o olhar para o lado esquerdo, está ativando a região cerebral responsável pela imaginação (está mentindo). Se desvia o olhar para o lado direito, está evocando a memória (provavelmente é verdade). Estude-a. Saber quando ela sente a necessidade de mentir ou quando está confortável o suficiente para dizer-lhe a verdade lhe ajuda não só a perceber o grau de intimidade e cumplicidade que você já atingiu com ela, como também vai lhe dizer se você pode prosseguir ou não.

Este processo é demorado, como toda aqüendação bem feita. Ataques rápidos não trazem grandes méritos, criam situações desagradáveis e formam inimizades. Mesmo sabendo ou achando que ela lhe quer, tenha a paciência de aproveitar cada momento da arte da conquista. É extremamente prazeroso aprofundar-se no consciente e subconsciente de uma mulher, observar a conquista gradual de espaço que você vai obtendo no pensamento dela e ter a sensação de controle sobre a intimidade do relacionamento de vocês duas (tenha cuidado com esta última, mais uma vez).

Até aí, o que você tem é basicamente uma relação fraterna de afinidade feminina, de cumplicidade e confiança. E como partir daí para algo mais concreto? Bom, o primeiro passo é abordar o tema da homossexualidade feminina, ou do bissexualismo. Ao tocar no assunto, você terá a chance de observar a reação dela a tais tópicos e estudará o quanto ela é homofóbica, ou o quanto é liberal. A minha amiga (citada anteriormente) foi abordada por uma terceira amiga nossa, num jogo de “verdade ou conseqüência” com a seguinte pergunta: “Você já sentiu vontade de beijar outra mulher?”. A resposta dela foi, rápida e ríspidamente: “Nunca. Deus me livre, acho nojento.” À mesma pergunta eu respondi “Já, por curiosidade” e minha outra amiga disse o mesmo. Engraçado como em muitas ocasiões onde o desejo é tão forte, a auto-repressão é muito maior (esta menina, depois de mim, já namorou outras e atualmente é lésbica “com força”, como costumamos dizer).

A verdade é que o ser humano, em seu lado psíquico, tem dois aspectos: o id, que é responsável pelos desejos animais e instintos básicos, e o superego, cujo papel principal é a inibição do id para adequação ao ambiente social. O superego desta minha amiga era aquela coisa enorme que dizia ao id “mulher não, mulher não, mulher não”.

O que eu fiz?! Passei a fazer comentários esporádicos sobre bandas femininas lésbicas (t.a.t.u.), o que era perfeitamente aceitável, já que as mesmas estavam na moda. Daí veio o famoso beijo de britney spears e madonna na music awards, o que me deu mais substrato pra assunto. A resposta dela era sempre algo como “Que nojo, nem acredito! Sério?”. Eu tentava sempre demonstrar naturalidade em se tratando do assunto, enquanto ela achava tudo absurdo e me mandava não mencioná-los. Isto tudo durou pouco mais de 15 dias (entre o jogo da verdade e as conversas ocasionais). Que fique bem claro: não converse toda hora sobre assuntos gays, ou você pode parecer gay cedo demais. Seja discreta, faça comentários ocasionais, ponderando a hora, lugar e a forma de colocá-los.

E nos momentos em que ela fizer comentários sobre homens? Quanto mais insegura ela for, mais os fará, mesmo que seja gay e cheia de conflitos íntimos. Daí você pode optar por duas coisas: pode comentar de volta caso goste (vale para as bissexuais) ou, caso você não tenha afinidade com a figura masculina, opte por sorrir e concordar ou discordar dela, mas nunca manifeste repúdio aos homens. Evite comentários do tipo “Arf, eles são uó.” Lembre-se de todos os amigos gays lindos e maravilhosos que você tem: homens não são uó. Não demonstre não gostar dos homens. Mas também não precisa dizer que adora uma mala*(órgão sexual masculino) sem gostar, o que já seria hipocrisia demais.

Certo dia confessei a esta minha amiga, em meio a uma história de ex-namorados, que já havia beijado uma mulher. Falei que havia gostado, que beijo de mulher era uma delícia. Disse-lhe que os lábios eram mais macios, que a língua tinha movimentos mais suaves, mais passivos, que a superfície era mais lisa. Disse que o toque das bochechas era delicioso, era como passar hidratante e encostar a parte de trás dos dedos no rosto. Falei dos cabelos e do cheiro bom que tinham, de como era estranho sentir cabelos nas mãos ao redor do pescoço, nos ombros… e de como era diferente sentir os seios encostando nos seus. Não falei isso num tom de baixaria, não falei isso olhando fixamente para os olhos dela. Falei apenas como uma mulher hétero descrevendo uma experiência de beijar outra mulher, e num tom de quem não considerava nada demais tudo aquilo que estava sendo dito. Senti que minhas colocações realmente mexeram com ela. Passei uma hora falando de meu ex-namorado após esta confissão, e fiz questão de não comentar nada sobre mulheres durante um bom tempo. Notei que ela chegou a puxar assunto em algumas ocasiões, mas não divaguei. Disse-lhe que minha experiência se restringia àquilo (o que era parcialmente verdade, mas parcialmente inverdade também) e mudei de assunto.

Certo dia fomos a um bar bastante pop da cidade, freqüentado pela elite de adolescentes/adultos jovens da cidade. Fomos em um grupo de quatro amigas. Tomamos algumas vodkas e ela me disse com naturalidade “vou dormir em sua casa”. E eu respondi “ok, sem problemas” – infartei, claro. Bebemos três ou quatro vodkas cada uma.

Pausa para um detalhe importante: o álcool, para quem não sabe, inibe o superego. Por isso costuma-se dizer que o bêbado é mais sincero que o sóbrio. É verdade! A pessoa alcoolizada (ébria até certo grau) perde parte da inibição do superego, já que o álcool é depressor do sistema nervoso central. É nas grandes cachaças que conhecemos nossos amigos. Isto não quer dizer que você deva sair embreagando toda mulher hétero que quiser aqüendar, pelo amor de Deus! Quer dizer apenas que, após um certo grau de intimidade e tempo de convivência, 3 ou 4 doses podem te mostrar até onde você pode ir.

Chegando à minha casa, ela me pediu um pijama e dei-lhe um baby doll, claro. Era rosa, de seda. Lindo. Ela se vestiu e deitou ao meu lado para dormirmos. Minha cama era de casal, fiquei do lado direito e ela do esquerdo. Me virei para dormir – quem disse que eu conseguia? A idéia de ela estar ao meu lado, em minha casa, era atordoante. Ela se mexia bastante e culpava o álcool, alegando que estava sem sono. Começamos a conversar frivolidades, nada em especial. Assuntos banais, como havíamos conversado tantas vezes entre os estudos na minha casa ou na dela. Até que falamos sobre um amigo nosso que era gay e ela tocou novamente no assunto “Sei não, você com essa história de beijar mulher… não vejo graça nisso” e eu respondi “Meu amor, bem sinceramente… beijar mulher é uma delícia, o problema é que precisa de muita coragem pra fazer isso” e ela respondeu “o que você quer dizer com isso?” Eu respondi “Você acha mesmo que é fácil ter peito pra experimentar? Não é não! Não é qualquer pessoa que beija uma mulher. Tem que ser muito mulher pra beijar outra raxa”.

Notei que ela parou para refletir. Aquilo talvez tenha soado como um desafio. Observando a reação dela, naquele momento, eu soube que conseguiria. Foi o divisor de águas entre nossa amizade e o relacionamento mais íntimo. Eu sabia que havia mexido com ela, a questão era: prosseguir ou não naquele momento?! No auge da euforia adolescente, eu resolvi que sim, eu a queria. Não precisei de cinco minutos para que ela dissesse “eu não acho que seja coragem, nem acho que seja tão diferente assim” e eu disse “você não teria coragem…” “teria sim…” “tá, então prova.”

….

Nos beijamos muito naquela noite. Muito mesmo, parecia que ela havia esperado por 20 anos para que tudo aquilo acontecesse. Havia muito desejo reprimido nela. Apesar de ela negar isto posteriormente, eu sei que ela já havia desejado beijar outra mulher antes. Nos beijamos rolando pela cama a noite toda, até amanhecer. Dormimos cercade três ou quatro horas e acordamos por volta das 10 horas da manhã. A primeira frase que ela me disse foi “me leva em casa”, antes mesmo de dar bom dia. Ela havia surtado. Aviso que se preparem: isto vai acontecer. Sempre. Ou em pelo menos 90% das vezes. As mulheres heterossexuais que experimentam algo com outra mulher pela primeira vez, na maioria das vezes, se sentem culpadas no dia seguinte. Se houver álcool envolvido, pior ainda.

Nos afastamos por duas semanas. Ela parou de guardar lugar para mim na faculdade, não nos falávamos mais diariamente e eu fiquei com um vazio enorme no peito e comecei a me perguntar se não havia sido feio deixar que a situação toda acontecesse sob efeito de álcool, mesmo que em baixas doses. Me senti culpada, acho. Duas semanas depois de nossa noite de beijos (e foram só beijos, que fique bem claro – város beijos, rolando pela cama, mas não passaram disso), ela me informou que havia um trabalho em grupo para realizarmos naquela tarde e me pediu com ar de seriedade que passasse em sua casa. Assim o fiz, diferente dos demais 5 integrantes do grupo que furaram e nos deram um bolo. Me vi sozinha com ela depois de quinze dias de hiato. O silêncio entre nós era uma tortura. Ela não me olhava nos olhos. Eu falava monossilábicos ou frases curtas como “que demora”, e ela “é”. “Acho que eles não vêm” “aham”. “Quer estudar?” “Tá.”…. e assim ficamos estudando o restante da tarde. Fomos para o seu quarto. No intervalo do estudo ela estava mais comunicativa e eu perdi o receio. Começamos a conversar mais civilizadamente. Eu perguntei-lhe com bastante naturalidade “você quer conversar sobre o que aconteceu lá em casa?”, ela me respondeu “não”.

A partir deste momento, prometi a mim mesma que, se voltássemos a ser amigas, eu não permitiria que a situação se repetisse. Não queria correr o risco de perdê-la. O noivo dela ligou cerca de 5 vezes durante a tarde, para piorar minha tortura e terminar de fazer com que eu me sentisse a pior das influências de todo o mundo. Resolvi ir embora. Me levantei e me despedi de minha amiga, indiquei-lhe uma boa creperia para jantar com seu noivo e saí. Ela me segurou pela mão enquanto eu tentava abrir a maçaneta da porta. Quando me virei, ela me olhava meio sem rumo, sem saber o que fazer ou dizer. Notei que estava extremamente confusa. Abracei-a sem maldade. Me senti mal por causar aquilo a minha amiga. Me senti maquiavélica, fria e calculista. Passamos um bom tempo abraçadas e ela se afastou. Notei que estava com os olhos inchados e vermelhos. Ela me beijou. Me beijou com delicadeza, com a cumplicidade e intimidade que duas grandes amigas têm e com a curiosidade de dois namorados recém-comprometidos.

Nem tudo foi um mar-de-rosas. Demorou um mês até que ela aceitasse que havia se apaixonado por mim, o noivo descobriu e foi toda uma confusão. Ele ficou magoado, triste, revoltado. Ela ainda enfrentou diversos surtos, resolvia que não queria aquilo para vida dela, me mandava embora, pedia que me afastasse e depois me ligava pedindo pra voltar na casa dela. Eu agüentei poucas e boas até realmente namorarmos sério.

Esteja preparada para tudo isto que citei acima. Introduza o tópico da homossexualidade feminina com cautela, não explore os limites dela. Observe reações e pondere o avanço medindo sempre até onde pode ir pelas respostas não-verbais que recebe. Tenha em mente que toda mulher é passível de ser convertida e pode surtar logo em seguida. Não a faça passar por isto ter algo em troca para oferecê-la, ou você estará sendo mais um “homem cafajeste” no mundo. Não é objetivo deste livro criar Don Juans femininos.
CONVERTENDO CURIOSAS
Beatriz fala…
Ainda bem, principalmente para as pessoas tímidas como eu, nem sempre é tão difícil fazer uma conversão. Além das heterossexuais convictas, você irá se deparar com muitas meninas assumidamente curiosas por “provar da fruta”. Esse tipo de relacionamento é bem mais simples, leve e, embora os surtos – definitivamente a pior parte da conversão -existam, são um pouco menores do que os descritos por Helena.

A primeira coisa que você deve ter em mente ao se interessar por esse tipo de garota é o tipo de relacionamento que você deseja ter com ela. Antes de mais nada, você deve tentar descobrir se ela é apenas “moderninha” e esta querendo ficar com meninas porque está na moda, ou se é uma lésbica/ bissexual em potencial.

Se ela quer apenas uma aventura sem compromisso, mostre diretamente o lado sexual da coisa, de experimentar o proibido, do prazer que isso pode dar. Vale ressaltar que, se você for do tipo que se apaixona (meu caso), pule fora desse tipo de garota, e passe a bola para alguma amiga sua.

Agora, se você realmente esta interessada em um algo mais, e enxerga essa possibilidade, os passos usados para uma conquista serão parecidos com os que Helena descreveu acima, mas com as seguintes diferenças: A forma de abordagem a uma curiosa não precisa ser tão sutil nem tão vagarosa quanto a de uma hétero “convicta”. Ela provavelmente já deve ter ouvido boatos sobre você, portanto, se fingir de hétero é perda de tempo. Trate o assunto com naturalidade, sem hipocrisia, mostre a ela que o mundo gay não é o bicho de sete cabeças que a sociedade costuma pintar, e que relacionamentos homossexuais são comuns e freqüentes. Entre um pouco na vida dela, deixe-a entrar na sua, mas, se estiver interessada, deixe isso ao menos implícito. Não force a barra, mas mantenha no ar um clima de “se você me der abertura, eu terei uma história com você”. Afetivamente falando, mostre como a cumplicidade entre duas mulheres pode ser melhor do que a do namoro mulher-homem. Uma vez armado esse cenário, não perca muito tempo, a linha entre uma amizade e uma paquera é algo muito tênue. E, se você quer essa menina para você, não deixe a amizade quebrar o clima de paquera!

Então, como convencer uma mulher hetero-curiosa a ficar com você, presumindo que ela já sabe que você é lésbica e você já descobriu a “curiosidade” dela?

Arrume um jeito de conversar a sós com ela. Você não precisa chamá-la para sair num primeiro momento, embora seja a situação ideal. Convide-a para sair num grupo de amigos, caso se sinta mais confortável, e faça surgir o assunto. É muito mais interessante que esta seja uma conversa entre você e ela. Não é o seu intuito fazer a “proposta” ficar interessada em beijar mulheres, e sim, em beijar uma mulher específica, você!

Comece a conversa em tom de brincadeira, como uma mulher gay que está “defendendo a classe”. Diga que beijos entre mulheres é muito melhor, que sexo entre mulheres é muito melhor. Assim que você conseguir prender a sua atenção, comece a descrever os dois e as diferenças, com o máximo de paixão que conseguir.

“O beijo entre duas mulheres é sempre mais doce, mais apaixonado. Para um homem, beijo é um ato que dá tesão, algo que antecede o sexo. Para uma mulher, o beijo é muito mais do que isso. A mulher faz você sentir com os lábios exatamente o que fará com você na cama. O tempo da língua, a suavidade do toque, a tez da pele. Um toque certo, no lugar certo. Uma coisa suave, quase felina. Uma entrega mútua a algo que é muito mais intenso do que duas bocas se tocando. Você perde o norte, a única coisa que você quer é se deixar levar, é sentir mais daquele beijo, daqueles toques, daquela sensação tão mais leve e ao mesmo tempo tão diferente de tudo que já experimentou”.

Fale algo parecido com descrição acima, olhando a nos olhos, como se já a estivesse beijando. Fale em tom suave, mais ou menos no tempo de um beijo. Se você não estiver a sós com ela, cuidado para vocês não “se pegarem” ali mesmo, na frente de todo mundo! Sorria com discrição e diga que, no que diz respeito ao sexo, você só faz ao vivo que é pra manter o mistério. Dê um jeito dela voltar com você no seu carro (se não tiver carro, volte com alguém de confiança e que seja seu amigo o suficiente para segurar vela). Tenha sempre uma música sensual em mãos (Portishead, por exemplo). Pare em algum lugar seguro! Ser assaltado nessas horas levará a sua conversão por água abaixo!
Helena fala…
Agora os aspectos importantes da conversão feminina: a cabeça da mulher hétero funciona diferente da cabeça da mulher gay. A mulher hétero se coloca numa situação social passiva constantemente. Os homens são sempre responsáveis pela abordagem e pela ação no relacionamento. Uma mulher hétero não está acostumada a observar comportamento ativo vindo de outra mulher. É importante ponderar o avanço por conta disto. Há, óbvio, aquelas que voam em cima de você e fazem tudo o que têm vontade de cara, naquela noite, com o medo de não terem coragem de fazê-lo novamente, e você se vê numa posição mais passiva do que nunca, mas não é o comum.

A mulher gosta de ser conquistada, esta é a verdade. Ela gosta da sensação de cada dia gostar mais. E você quer que ela sinta isso. Com o devido embasamento empírico e prático, posso dizer: nunca dê o primeiro beijo. Só avance 90% do caminho, devagar, no momento certo, olhando-a nos olhos e nos lábios, mas deixe-a beijar você primeiro. Dê a toda mulher hétero que você for beijar pela primeira vez a possibilidade de só fazê-lo por vontade própria. Mostre-lhe o que é estar a poucos centímetros de distância de outra mulher, sentir a franja batendo na ponta do nariz, os narizes encostando, as respirações se misturando…. deixe-a captar este momento e avaliar o desejo que tem de continuar os 10% restantes e viver a experiência de se relacionar intimamente com outra mulher. Deixe esta decisão em suas mãos. Em minha experiência, nenhuma delas deixou de avançar estes 10%. A idéia de que a decisão de beijar ou não está nas mãos dela dá à mulher heterossexual a segurança de que o que quer que vá acontecer, só o vai se esta assim o quiser. Boa Sorte!

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