segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Capítulo 6 - Reconhecendo as Aliadas

Beatriz fala…

A melhor forma de descobrir se uma garota é entendida ou não, ainda é através do “gaydar”. Uma espécie de sexto sentido lésbico, que faz uma “dyke” experiente reconhecer outra de longe! No entanto, ele nem sempre funciona, principalmente para alguém que ainda está “engatinhando” no meio. Graças a isso, começarei este capítulo definindo algumas características básicas que você deve perceber antes de colocar o seu “gaydar” em prática.

1 – Requisitos Básicos

Uma amiga costumava dizer que, para ser lésbica de verdade, três características eram fundamentais: jogar futebol bem, gostar de Ana Carolina e saber fazer uma baliza. Se isso fosse verdade, nessas horas eu deveria estar casada e com três filhos! Como se sabe, existem vários tipos de lésbicas e basear-se num estereotipo não vai levar a lugar algum. Calma amigas, não se desesperem! Ainda há características que se pode perceber até na mais feminina das bolachas! Vamos a elas!

Mulher gay deve, a priori, ter as unhas curtas. Não que isto seja uma regra, mas é uma ampla maioria. É também conhecida a preferência das “sapinhas” pela cor prata. Anéis nos pés são suspeitos e o clássico par de tênis, embora não seja adereço exclusivo das raxas, também é traço marcante.

É bem verdade que muitas mulheres lésbicas têm filhos, mas falar sempre dos sobrinhos é uma característica predominante! A combinação explosiva é: falar excessivamente dos sobrinhos + falta de aliança no dedo, principalmente depois dos 30 anos. Se a mulher não tiver cara de quem ficaria pra titia, aí então…. ihhhhh!! Muito suspeito!

Também é verdade a parte do futebol, e mais ainda a da Ana Carolina e a da baliza. Há uma simpatia declarada por cantoras como Isabella Taviani, Ana Carolina e Zélia Duncan. Por alguma razão não identificada, mulheres homossexuais tendem a dirigir melhor do que as heterossexuais (eu e Heleninha exclusas).

(Heleninha interrompe: Há quem diga que isto é culpa dos homens, que as convencem a ter uma noção espacial e de escala deturpada dizendo que os pintos de 13cm têm, na verdade, 18).

Você analisou a sua “proposta” e ela não possui nenhum dos itens acima relacionados!? Nem eu! Logo, vamos às técnicas avançadas de reconhecimento.

2 – Requisitos Avançados

Tente observar a sua futura aqüendação nos hábitos simples do dia a dia. Normalmente o que denuncia a mais feminina das lésbicas é a maneira como ela olha para outra mulher. Preste atenção na reação dela quando uma mulher muito bonita passar. Se houver algum instinto gay, por mais reprimido que seja, a sua “proposta” olhará para uma mulher bonita, se não com desejo, ao mínimo com uma simpatia impossível de se perceber no olhar de uma hétero.

Certo dia, fui a um bar absolutamente careta com um casal de amigas lindas de morrer. O bar estava lotado e, logo na entrada, nos deparamos com um grupo de umas 4 ou 5 meninas que olharam prontamente para o meu casal amigo. Eu dei a maior gargalhada e o casal me perguntou por que eu estava rindo tanto. “Bem vindas ao maravilhoso mundo das mulheres heterossexuais. Olha a cara de despeito que aquelas meninas estão olhando para vocês!” A mulher hétero, em sua maioria, não gosta muito de concorrência. Logo, se alguém interessante do mesmo sexo passar por elas, jamais será uma futura aqüendação e sim, uma rival em potencial. Resumindo: olhou com simpatia, continue com a análise. Olhou para falar mal da sua roupa, cuidado com o próximo passo!

Vale lembrar que a menina pode ser gay e estar com a namorada por perto. O que a fará olhar para uma mulher com certa timidez, ou ter um surto de ciúmes da namorada e olhar para você com ódio. Caso você seja a causadora de uma briga, ao menos conseguirá facilmente descobrir que ela é entendida.

Também há o caso de a garota ser gay e estar, ou num ambiente tenso (trabalho, faculdade, etc.) ou ter problemas com a sua sexualidade. Isso quebra a análise da “simpatia”, mas não quebra o detector de heteros do “despeito”. Nessa hipótese, você terá que encontrar com a garota (ocasionalmente, ou não) num ambiente em que ela se sinta confortável. Se conseguir chamá-la para sair, utilize as técnicas de detecção que serão descritas por Heleninha abaixo.

P.S. Enquanto eu escrevo este capítulo, converso com uma amiga no MSN pedindo opiniões e, pasmem, ela continua sem nenhuma das características. O que me leva a colocar um terceiro plano de reconhecimento.

3 – Quando tudo dá errado.

Bom, amigas, se tudo isso der errado, vamos ao plano infalível da Beatriz e da Heleninha. Chame a garota para sair como amiga e….

Encha ela de vodka!

Com o álcool aguçando os sentidos, provavelmente será mais fácil perceber do que ela gosta. Se mesmo assim você ainda não tiver a certeza, por via das dúvidas, utilize as dicas do capítulo conversão e boa sorte.

Helena fala…

Plano da Heleninha nada!! Tá insinuando que eu só pego raxa bêbada? Olhe, olhe! Pois só por causa disto, farei meu adendo se prolongar mais do que havia planejado a priori.

Falemos sobre um dos meus assuntos preferidos: O gaydar.

O gaydar é uma coisa intrínseca, se desenvolve naturalmente em todas as lésbicas – numas mais cedo, noutras mais tarde. Como é que funciona isto? É fácil… você, subconscientemente, consegue integrar características que são inerentes à maioria das mulheres que, declaradamente, são lésbicas – pelo menos para você. Isto não é algo que se controla, não há como. Faz parte do seu processo de análise social inconsciente. Então paremos para analisar… qual a essência do gaydar? O que o compõe, o que marca tanto aquele grupo de pessoas gays e culmina com a formação de uma interpretação subjetiva, imperceptível à maioria hétero, e sutilmente captada pelas lésbicas experientes? Alguém já parou para pensar nisto? Sejam bem-vindas à autópsia do gaydar.

As pesquisas realizadas pelos acadêmicos da psicologia nos últimos 20 anos mostraram que, durante um contato entre duas pessoas, 7% da mensagem é transmitida por palavras. 38% reside na entonação do que se fala. Os 55% restantes (que compõem a maior parte da comunicação interpessoal) estão na famigerada lingüagem corporal – a verdadeira mãe do gaydar, daquelas que aparece no final da novela, sabe?

Cerca de 55% de todo o contato que há entre duas mulheres é falado pelo corpo… e apenas 7% está nas palavras… o que significa que, por mais que você treine o discurso, o seu corpo fala cerca de 8 vezes mais do que você. Por isso que eu sempre digo que não adianta fingir orgasmo comigo.

Eu poderia falar horas sobre como a lingüagem corporal está vinculada aos genes (criancas cegas sorriem sem nunca terem visto um sorriso), sobre como a imagem que temos de alguém reside em coisas sutis como postura, padrão respiratório, movimentos, entonação de voz e afins… mas vamos direto ao que interessa: a aquendação per se.

Quer perguntar se uma mulher é lésbica? Pergunte a seu corpo. Observe-o. Analise desde a forma como anda, como respira, como fica em pé quando está parada. Quando cruza ou não os braços. Observe se sorri e fecha os olhos, se fala puxando a voz da garganta, em tom agravado, ou se tem aquele ar dócil de quem fala apenas com a região anterior da boca. Há alguns sinais corporais que as mulheres emitem, inconscientemente, quando estão flertando: mexem nos cabelos, jogando-os de um lado para o outro e expondo o pesçoço e ombros. Costumam cruzar as pernas com as mãos sobre as coxas, o que torneia as pernas e é sabidamente uma indicação clara de interesse. Quando falar com ela, observe seu olhar. A triangulação do olhar é sinal patognomônico (de certeza) de admiração e interesse sexual: há contato visual com os olhos – primeiro um, depois o outro – e a boca. A alternância do olhar nestes 3 pontos significa “venha me pegar que eu já estou gritando que quero você!”.

Observe se, durante uma conversa informal, ela sempre presta atenção no que você diz – como se, de alguma forma, estivesse sempre atenta. Procure indícios de posturas ativas, socialmente (e retrógradamente) denotadas a homens – por exemplo, o ato de abrir uma porta para você e segurá-la para que você passe, ou o ato de perguntar sempre o que você quer beber/comer num restaurante, de posse do cardápio em mãos. Abrir a porta do carro, puxar cadeira em restaurante? Ela está fazendo a corte, meu bem. Inconscientemente, mas está. Perguntar o tempo todo na balada se você quer mais alguma coisa? Se está bem? Se quer ir para casa?! Há preocupação constante com o seu bem-estar… o que significa que você está presente no pensamento dela em boa parte do tempo. A amiga hétero já estaria agarrada com o primeiro bofe interessante que houvesse ali passado, e você estaria sentada num sofá esperando carona (porque ela ia dar pra ele, aquela safada!).

A imagem em espelho é outra coisa que pode acontecer… quando duas pessoas conversam em sintonia, inconscientemente elas mantêm os corpos em posições semelhantes. Adote posturas diferentes quando estiver conversando intimamente com ela e veja se ela segue o seu padrão sem perceber… se seguir… ponto pra você. O ato de espelhar o posicionamento do corpo cria um estado de empatia, de compreensão e respeito mútuos. Tudo sem trocar uma palavra… Quem diria! O gaydar é mudo.

Quando há interesse envolvido, é tendência natural da garota não segurar nada na frente do coração. Vai entender! Se houver um drink em mãos, ele é segurado à altura da cintura ou posto numa mesa ao lado.

Aqueles breves olhares de “reconhecimento”, curtinhos, que são seguidos por um outro olhar mais prologado são sinal de interesse… é aquela pessoa que faz um breve contato visual, desvia o olhar rapidamente e o retorna após processar o que viu, olhando-a por maior período de tempo. Isto significa: você me interessa. Se ela sorri quando te olha, mesmo sem estar conversando com você, é sinal de receptividade. Cruzar os braços durante a conversa significa a criação de uma barreira. Ela não está receptiva a você, ao que você fala ou a ambos. Mude de estratégia ou de mulher. Segurar o queixo durante a conversa? Ela não está dando a mínima para o que você diz… balança a cabeça afirmativamente enquanto pensa na outra mulher (ou no outro bofe) que a ligou ontem! É impossível fazer o corpo mentir. A lingüagem corporal é controlada por áreas do cérebro que têm um funcionamento independente da vontade. Não é conscientemente controlável… a maior das canalhas mentirosas pode chorar a seus pés dizendo “eu te amo”, mas o corpo dela vai estar entregando tudo. Depois deste texto, acho que ninguém voltará aquele namoro falido com aquela garota que todos sabem – você inclusa – que não presta!

Brincadeiras à parte, toda esta prolixidade foi para chegar num denominador comum: o gaydar lê a lingüagem corporal das mulheres. Ele capta a essência feminina, todo o conjunto da mulher e do que se passa ao seu lado. Lembrem-se que só usamos 5% do nosso cérebro… sobram 95% pra fazer este tipo de coisa por nós. É por isto que, inexplicavelmente, após conversar por cinco minutos com uma mulher – ou vê-la conversando com outra – você às vezes tem aquele súbito estalo que diz “ela é gay!”. Quer um conselho? Vá atrás dos seus instintos.

E durante toda esta observação… pelo amor de deus, esqueça para sempre aquele olhar ultra-mega-power-sexy que você treinou por anos na frente do espelho desde que virou adolescente. Sorrir é o melhor remédio. Pessoas sorridentes são sabidamente mais atraentes e sedutoras. A capacidade de seduzir se resume a ser espontânea e transmitir segurança e felicidade. Sorria, seja segura e espontânea… não há mulher que resista.

Beatriz fala…

Embora os capítulos anteriores ensinem técnicas para se paquerar uma pessoa do mesmo sexo dentro e fora do “mundo” gay, é óbvio que, na prática, as coisas não são tão fáceis assim. Ter cara de pau para olhar uma mulher num shopping, sair para paquerar em uma balada gay e correr o risco de ser vista por aquele arquiteto fofoqueiro da sua tia, ter peito pra seduzir a sua melhor amiga, entre outros tantos inconvenientes, podem lhe acovardar e fazer você desistir da idéia de realizar a aqüendação.

Felizmente, estamos no século XXI e a modernidade propicia um grande auxilio de contato. Paquerar na net é mais fácil, mais discreto, atinge uma linha geográfica muito maior e você ainda o faz sem sair de casa!

Como fazer isso? Captando os sinais. Assumir-se gay é uma coisa difícil; explicitar em uma página da Internet é desnecessário. Este capítulo dará algumas dicas básicas de sinais sutis para se informar e perceber na net, focando os meios mais importantes e seletivos: Orkut, MSN, Fóruns, Blogs e Fotologs. Como se aproveitar e como utilizar a melhor combinação entre eles.

O ideal é que se faça uma combinação dos meios mais importantes – Orkut, MSN, fóruns, fotologs e blogs. Sendo os dois primeiros cruciais eindispensáveis! A seguir, o passo a passo para ter um cadastro chamativo!

ORKUT

É, talvez, o mais importante meio de comunicação virtual gay da atualidade. Uma grande rede de relacionamentos, um grande banco de dados, uma excelente forma de se encontrar pessoas interessantes! E nada como uma ajudinha para tornar o seu perfil mais atrativo e para saber como procurar e encontrar as pessoas certas.

Nada mais prático! Ao entrar na sua página pessoal, a interessada vê uma ficha completa e detalhada de todas as suas preferências, seus amigos, o local onde você vive, o tipo de trabalho que você faz e, por último, mas não menos importante: fotos. Por conseguinte, utilize as técnicas de um bom vendedor: exalte suas qualidades e disfarce os seus defeitos.

Tenha sempre em mente a amplitude de alcance do orkut. Como todas as ferramentas de comunicação, ele possui vantagens e desvantagens. Infelizmente, ele não será visto apenas por suas potenciais aqüendações ou por seus amigos de confiança. Por isso, tome muito cuidado com o que você colocará nele.

Preenchendo o profile

  • Foto: A foto de entrada é o seu cartão de chamada, o que vai fazer as pessoas entrarem – ou não – no seu profile ao vê-la em alguma comunidade ou em amigos em comum. Truques de imagens são bons, mas saiba usá-los na medida certa. Tente colocar uma foto que parece com você de verdade, assim, a sua próxima namorada não cairá em “propaganda enganosa”. Em relação ao álbum de fotos, tente algumas fotos de corpo inteiro (não precisa estar de biquíni, orkut não é comercial de cerveja! Só pra que possam ver a sua silhueta), e evite colocar fotos em baladas gays – seu chefe pode estar entre seus friends.
  • Nome:Se você colocar o nome completo, as pessoas poderão encontrá-la pelos mecanismos de busca. Pese os prós e os contras disso.
  • Namoro: Não precisa colocar que está interessada em mulheres, isso vai ficar claro apenas deixando a opção em branco.
  • Orientação sexual: deixe em branco
  • MSN, e-mail: se quiser deixá-los, cuidado com os Fakes (falarei deles mais adiante no capítulo).

O restante do profile, preencha como quiser. Se você quiser que leiam o seu blog e vejam o flog, é interessante colocá-los também no lugar da descrição. E lembre-se: este é o seu retrato para o mundo virtual.

Caçando no orkut

Use a abuse do gaydar (capítulo 3 do manual). Procure por sinais de que a garota pode ser gay. O primeiro deles é a opção sexual estar em branco. A chance de ela ser, no mínimo potencialmente convertível, é alta. Passado o teste inicial, procure pelas comunidades. Bares alternativos, cantoras que se sabem preferidas do público gay, inexistência de comunidades como: homens de pegada, eu gosto de homens cheirosos, etc.

Em seguida, se a pessoa não apagar os scraps, dê uma olhada na forma que ela responde a homens e mulheres. Se está marcando pra sair com algum homem, se os comentários são de amigos ou de paqueras. Com uma união desses sinais, é provável que você tenha uma chance!

A abordagem pelo orkut deve ser feita da forma mais sutil possível. Procure semelhanças, amigos em comum (de preferência gays), um animal de estimação ou qualquer outra desculpa esfarrapada.

Se ela for gay, ela vai perceber que você está tentando se aproximar. Escreva umscrap qualquer e adicione como friend. Depois disso, troque testemonials(ninguém precisa saber que você está tentando aqüendar a garota) e peça o MSN.

FOTOLOG

O que em teoria seria uma diversão egocêntrica ou infantil tornou-se uma excelente forma de comunicação gay. É meio patético e até narcisista colocar um site na net mostrando sua vida e suas fotos, mas acredite: funciona!

Tenha em mente que aquilo é primordialmente um anúncio, não uma diversão. Coloque as informações que você quer que os outros saibam. Não se exponha demais, evite muitas fotos de familiares sem, contudo, deixar de passar que você é uma pessoa de família (se for o caso). Coloque coisas que você gosta, que acha divertidas, dê as pessoas que visitam o seu fotolog a vontade de querer entrar no seu mundo, de viver a sua vida. Cuidado com os seus favoritos! É através dele e das pessoas que comentam que as pessoas vão analisar se você é gay ou não, se está solteira ou não, etc. Fotologs de outros amigos gays fazem com que o seu site fique mais visado, visto que há uma enorme rede de comunicação e relacionamento entre a comunidade “e-gay” do Brasil inteiro. No entanto, você tem sempre que ter em mente que para toda ação há uma reação: pessoas interessantes têm acesso ao seu site, mas as desinteressantes também.

À medida que você entra nesta rede, está sujeita aos caçadores de gays! Homofóbicos, peruas mal amadas e demais pessoas que não têm o que fazer a não ser falar mal dos outros e bisbilhotar a vida alheia. Se você sabe estar vulnerável a esse tipo de pessoas, cuidado! Às vezes pode ser interessante apenas olhar os flogs de terceiros e postar comentários para as pessoas que você acha interessantes. Sua privacidade será menos invadida. Em compensação, você só poderá achar, não será achada. Mesmo que opte por ter seu próprio fotolog, é interessante que você trave os comentários apenas para fotologgers. Assim você impede maiores ofensas e se livra de comentários anônimos inconvenientes.

Helena fala…

Só um adendo: o fotolog não é só alegria. Ter muitas fotos em todas as variações de humor, expressões faciais e ângulos diferentes fará com que você seja reconhecida quando menos espera – e quando, definitivamente, não quer. Eu e a Bia estávamos há cerca de 4 meses no bar gay-podre-cafuçu da cidade (foi um acidente, juro!) e a Bia foi atacada por uma scânia desconhecida, dentro do banheiro, que disse com voz nada sexy “Beatriz Almeida?!” – pobre Bia.

Na mesma noite, o cantor do bar dedicou três músicas à “linda Helena Moraes”, minutos antes de uma mulher estranha surgir com uma câmera e pedir uma foto com cara de quem encontra ator da globo. Detalhe: antes que eu pudesse responder qualquer coisa, a foto foi tirada e ela saiu andando a passos largos – ainda saí feia, com cara de “hã?!”. Gente, o que é isto?!

Não é por sermos pop – não somos – ou lindas – também não. É apenas o fato de termos tido pessoas que “viviam nossa vida por osmose”. Haverá pessoas que se sentirão “íntimas” suas sem pedir permissão. Isto pode ser bastante desconfortável, sem falar que você poderá adquirir fama de lésbica virtualmente e isso poderá repercutir na sua vida real. Se o seu fotolog for muito visitado e você tiver amigas assumidas postando comentários, a fama irá surgir. Pelo sim e pelo não, uma dica prudente: não use seu nome completo.

Beatriz fala…

BLOG

É uma ferramenta mais antiga do que as outras, mas de crucial importância para a aqüendação virtual. É a sua chance de mostrar que não é apenas um rostinho bonito. O conselho que eu dou para o blog é: Escreva o que você quer que as suas aqüendações leiam! Se você quer ser paquerada pelo que você pensa, não pelo que aparenta, capriche no blog! Faça um layout bonito, coloque algumas figuras. É sempre bom ler uma página de aspecto apresentável. Os próprios sites de blogs têm opções para que você deixe a sua página bonita de maneira simples. E não esqueça de deixar no seu flog e no seu orkut links para o blog. O mais conhecido e utilizado (e fácil de mexer) é o www.blogger.com – nossa sugestão.

MSN

Uma vez escolhida a presa, é só adicionar no MSN. Todas as formas de aqüendação virtual confluem para esta seção. A ferramenta é auto-explicativa e, a grande maioria das lésbicas está mais do que cansada de saber como funciona. A única ressalva que eu faço é: se você nunca viu a menina na vida, não saia com ela, sob hipótese alguma, sem vê-la na webcam antes. É um procedimento simples que protegerá você de cair em muitos trotes. A garota pode não ser quem ela diz que é, e isso é muito, muito perigoso. Não é só de pessoas honestas e sinceras que se constitui o mundo lésbico. Muito cuidado antes do primeiro encontro!

Helena fala…

Você é pop, tem um fotolog super visitado, um blog com 15mil visitas e um orkut com uma descrição fantástica e um álbum ma-ra-vi-lho-so – até você ia querer se aqüendar virtualmente! Tudo isto pode trazer bons frutos para a sua vida amorosa e, certamente, o fará. Entretanto…

MARIANA LESSA

A Bia era a rainha dos fotolos: conhecia todo mundo (todo mundo MESMO) e era super visada. Em qualquer mesa gay da cidade que se tocasse no nome “Beatriz Almeida”, faíscas rolavam. Namoros desfeitos, brigas conjugais, ódio, admiração, tudo junto. Era uma verdadeira diversão ouvir que alguma amiga nossa começou um namoro e, prontamente, as amigas da namorada já haviam começado a enquete: “você é amiga da Beatriz?”.

Toda semana, a Bia me falava da nova aqüendação virtual: escritora de contos eróticos ruiva (La MarciKi! Haha), advogada de outro estado, tocadoras de violino – enfim, as figuras mais diversas e interessantes. Cada uma possuía alguma particularidade que descrevia, entre nós, de quem falávamos. Uma amiga de sampa chamava a Bia de “Dona Juana do cyberespaço”.

Certo dia, Helena (eu) estava em casa estudando tranqüilamente. Nunca tive tanto tempo para aqüendações virtuais – nem paciência. Não sei “caçar no orkut” como a Bia (só em teoria, já que ela me ensinou tudo). De repente, uma loira absurda com cara de princesa e olhos azuis me adiciona: Mariana Lessa. Telefonema instantâneo para a Bia:

“Bia!!! Quem é Mariana Lessa? Me adicionou no MSN do nada! Que gata!! De onde vem, para onde vai? É lésbica? Falo ou não falo? Meniiiiina, que absurdo!!”
“Eu sei quem é esta menina!! Na época em que comecei a namorar com a Myrna, depois do fim do meu namoro traumático com Rodolfo, ela me adicionou no MSN. Só que ela me fez várias perguntas estranhas, achei que fosse algum tarado e bloqueei”
“Eu estou vendo o orkut dela… não me parece fake. Temos alguns amigos em comum – o Rodolfo é um deles!”
“Jura?? Ai, meu Deus! Helena, não acredito que bloqueei a maior gata pensando que fosse de mentira… me dá já o MSN dela! Vou adicionar…”
“Dou nada! Hahahaha! É minha, eu vi primeiro!!”
“Sua nada! Ela me adicionou há meses! Deixe de ser cara-de-pau! Você já está pegando a Kate, quer mais do que aquela ruiva tatuada absurda?”
“Kate é muito louca… essa aqui parece ser uma patricinha. Ai, que delícia”
“HELENA!! Ela é minha!”
“É minha!”
“Eu vou dizer à Virgínia que você está ficando com a Kate!!”
“Ta, você venceu… pode ficar.”

Duas semanas depois… novo telefonema:

“Bia! Como anda a aqüendação com Mariana Lessa?”
“Hell, você não sabe… a menina tem uma história de vida super estranha. É paulista, casou com 14 anos e veio morar com o marido aqui. Tem uma filha de 3 anos, acabou de se divorciar e o bofe enlouqueceu. Ela não pode sair de casa por conta disto.”
“E de onde ela nos conhecia afinal?”
“Esta parte é engraçada: ela está tendo um caso com o Rodolfo! Você sabe que ele sempre teve uma tara por lésbicas, né?”
“Hahaha… ai, Bia… coitado do Rodolfo! Você vai meter outro chifre nele com mulher, só que agora do outro lado? Faz isso não…”
“Não! Pelo contrário! Vou aproveitar que eles são amigos para me explicar com o Rodolfo – a nossa história terminou de uma forma deveras desagradável”
“Sim, mas você quer aqüendar, não é?”
“Shhhhhh! Ninguém precisa saber.”

(Risos de ambos os lados da linha)

Bia e Mariana iniciaram conversas ocasionais ao telefone, e isto fez a Bia criar certo vínculo afetivo. Sua voz era dócil e linda, e batia com as fotos absurdas. O conjunto da obra deveria ser fantástico. Já havia se tornado insuportável a freqüência com a qual a Bia falava na Mariana. Neste ínterim, a Mariana precisou viajar a São Paulo. Ela estava pensando em se mudar para lá definitivamente, posto que não agüentava mais a perseguição do ex-marido. Ligava sempre de Sampa para a Bia, e as duas conversavam cheias de romance.

A Bia resolveu fazer as pazes com o Rodolfo, e teve a brilhante idéia de voltar a ter um caso com ele (sim, ela consegue ter as piores idéias do mundo, nas horas mais erradas). Adendo: para piorar, a Bia ainda pensava que era bi, mesmo depois do final traumático do primeiro namoro com Rodolfo (quase um flagra com a Myrna).

A situação era: Bia “namorando” Rodolfo, conversando diariamente com Mariana Lessa ao telefone, sem perspectivas de vê-la novamente. Rodolfo sempre falava em Mariana, mostrava fotos e se gabava, dizendo que era uma princesa… sempre acrescentava que a Bia era melhor, claro. Algumas semanas se passaram e a Bia conseguiu fazer uma pior do que o flagra com a Myrna. Pobre Rodolfo. (A história será narrada em outra ocasião)

Brigada novamente com Rodolfo, a Bia recebe um telefonema da Mariana dizendo que fará um bate-e-volta relâmpago na cidade, apenas para apanhar as coisas no apê e pegar a transferência da escola da filha, quando então iria definitivamente para São Paulo. O timing foi perfeito – pensou a Bia – ela acabara de ficar solteira! Marcou de encontrar com Mariana Lessa. Enfim iriam se conhecer.

A Bia passou uma semana falando sobre o tal encontro. Baniu todas as amigas de irem com ela para o restaurante, sob alegação de que Helena iria roubar a raxa, e todas as outras iriam atrapalhar a aqüendação. Ninguém poderia ir. Mariana seria só dela, pelo menos no primeiro encontro.

Fiquei morrendo de curiosidade em casa, esperando a qualquer momento uma ligação da Bia, diretamente do banheiro do restaurante, me contando todos os detalhes do encontro. Fizemos uma aposta se Mariana iria de mini-saia, e qual o tamanho do decote que usaria. Estávamos nos divertindo com a mega-aqüendação que iria rolar, depois de meses de embromação.

Beatriz fala…

Eu e Mariana tínhamos nos falado umas seis vezes no dia do encontro. Decidimos por um restaurante da moda perto do flat dela. Iríamos nos encontrar lá, afinal, quer queira quer não, não nos conhecíamos ainda. Ela falou que havia trazido uma caixa de espumante, e que poderíamos ir ao flat dela depois de lá. Tudo estava mais do que perfeito!

Coloquei a minha melhor roupa, maquiagem impecável, perfume de guerra, sorriso no rosto. A Mariana me mandou uma mensagem dizendo que ia atrasar uns 5 minutos e pediu que eu comprasse uma vodka para ela.

Chegando ao restaurante… que coincidência! Dou de cara com Rodolfo e mais dois desafetos meus sentados na primeira mesa! Eles pareciam rir de mim o tempo todo. Muito estranho, o Rodolfo não costumava andar com aquelas meninas. Todos ali, juntos, no mesmo lugar!

Gelei! Liguei para Antonio e Patty imediatamente e mandei eles irem para lá, tudo poderia ter sido uma grande armação. Sentei na mesa, pedi calmamente uma dose de vodka (só a minha, já que havia a possibilidade da Mariana Lessa ter uma barba), e comecei a pensar calmamente na forma mais dolorosa de assassinar o Rodolfo enquanto esperava o resgate. É claro que ele não ia perder a oportunidade de ir falar comigo.

“Oi Bia!”
“Oi Rodolfo, tudo bom?”
“Tudo ótimo, depois de você nunca mais levei um chifre!”
“Mas você como sempre agradável, meu amor! Estava com saudade!”
“Você está aqui sozinha?” (ai que filho da !@@#)
“Não, a Patty ta chegando. E você?”
“Estou com umas amigas, qualquer coisa, se a Patty não vier (risinho de escárnio), você pode vir sentar na minha mesa.”
“Ela acaba de chegar!”

Graças a Deus a Patrícia chegou e a mala do Rodolfo voltou para a mesa dele. Neste ínterim, recebo uma mensagem desaforada no celular:

“Como você pode armar pra mim? Eu vi você na mesa com o Rodolfo, isso não é coisa que se faça. Eu queria encontrar com você, mas você não tinha o direito de me fazer brigar com o meu único amigo da cidade!”

Ai meu Deus, e agora? Trote ou uma infeliz coincidência?

Respondi dando uma de louca:

“1 x 1 Dolfinho! Aliás, 2 x 1 (já que você levou dois chifres!). Você sabe que a culpa não é minha! Eu gosto de mulher e nunca escondi de você. Você não tinha esse direito!”

Resposta:

“Como assim? Ta louca menina? Você primeiro arma pra mim e agora me chama de Rodolfo? Quem você pensa que eu sou?”

Dúvida cruel! Seria tudo armação ou uma infeliz coincidência!

Disquei o telefone. Uma Mariana Furiosa atendeu. Ela estava muito nervosa e me ter quase a certeza de que tudo era uma infeliz coincidência. Nessas horas, nada como Helena Moraes para acabar com a dúvida!

Helena fala…

Eu aguardava pacientemente a ligação da Bia me contando sobre a perfeição estética da Mariana. Imaginava que fosse um avião sem igual. A ligação demorou a chegar, mas aconteceu de madrugada. Entretanto, ao invés da Bia empolgada que esperava receber ao telefone, atendi uma Bia extremamente irritada e confusa. Após narrada a história, minha conclusão foi a óbvia: foi coincidência demais. O estranho é que a mulher realmente existia. Como poderia haver um fake com voz feminina, celular interurbano e existência mentirosa integral? Nada parecia se encaixar. Eis que tomamos uma decisão estratégica para desvendar o mistério de Mariana Lessa.

Era bem sabido que Rodolfo era o mais imprestável dos homens. Tarado por lésbicas, deu em cima de todas as amigas da Bia numa vã tentativa de conseguir um menàge. Claro, eu fui uma delas. Decidi me aproximar do Rodolfo para “pescar” a história de Mariana Lessa. Não falava na Bia, procurava enfatizar todas as outras amigas, numa tentavida de fazê-lo desvincular nossas imagens. Eis que consegui.

Orgulhoso, não demorou até que se gabasse da sua vingança perfeita. Combinara com as duas arqui-inimigas da Bia uma forma de fazê-la pagar pelos namoros mal-terminados, contratara uma mulher para se passar pela Mariana Lessa (sim, ele era totalmente psicopata) e fez todo o carnaval durar meses. No intervalo da maldade, voltou a namorar com a Bia e desistiu da vingança por algumas semanas (até levar um outro chifre de mulher). Após o segundo trauma, bolou a volta da Mariana à cidade, juntou os desafetos da Beatriz numa mesa na porta do restaurante em questão e regozijou ao ver a nossa heroína frustrar-se quando não encontrou seu romance de meses.

Fotos de mentira, um orkut minuciosamente criado para fazer o mal. Uma mulher contratada para se passar por outra, instruída a falar sobre Chico Buarque de Holanda e vinhos alemães. Tudo por vingança.

Até a mais esdrúxula das histórias pode acontecer no mundo virtual, especialmente quando se tem um ex-namorado frustrado. Use esta história como aprendizado.

A mensagem que fica é: tenha certeza de que você fala com uma pessoa de verdade antes de partir para o primeiro encontro, e suspeite de qualquer relação afetiva com pessoas que não sejam são bem quistas por você.

Beatriz fala…

Como diz o ditado: “Sou brasileira e não desisto nunca”.

Mesmo traumatizada com a vingança de “Dolfinho, o tarado psicótico” e tendo virado motivo de piada na cidade inteira por meses – porque descobri que a armação foi feita por mais de quinze pessoas – eu passei a usar a net com mais prudência.
Não é só de Marianas Lessas que a Internet é formada. Eu tive alguns namoros e flertes que começaram com uma conversa no MSN. Hoje, um pouco mais experiente, posso dizer com convicção que a Internet é um ótimo lugar para conhecer raxas tupiniquins maravilhosas que estão dando sopa por ai.

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